PEQUENOS PASSOS PARA VENCER O MEDO DE FRACASSAR
- Mariana Simões Teixeira
- 11 de jun.
- 5 min de leitura

O MORRO
Laura E. Richards
“Não consigo subir nesse morro”, disse o menininho. “É impossível. O que vai me acontecer? Vou passar a vida inteira no pé do morro. É terrível demais aqui.”
“Que pena!” — disse a irmã. — “Mas olhe, maninho! Descobri uma brincadeira ótima! Dê um passo e veja se consegue deixar uma pegada bem nítida na terra. Olhe só para a minha! Agora, veja se consegue fazer uma tão boa assim!”
O menininho deu um passo. “A minha está igual!”
“Você acha?” — disse a irmã. — “Olhe a minha, de novo, aqui! Eu faço mais forte que você, porque sou mais pesada, e por isso a pegada fica mais funda. Tente de novo!”
“Agora a minha está tão funda quanto a sua!” — gritou o menininho. — “Olhe! Esta, esta… estão o mais fundas possível!”
“É, está muito bom mesmo!” — disse a irmã. — “Mas agora é minha vez. Deixe eu tentar de novo e vamos ver!”
Eles continuaram, passo a passo, comparando as pegadas e rindo da nuvem de poeira cinzenta que lhes subia por entre os dedos descalços. Até que o menininho olhou para cima e disse:
“Ei…nós estamos no alto do morro!”
“Nossa!” — respondeu a irmã. — “Estamos mesmo.”
Às vezes é assim. Subimos passo a passo, quase sem perceber. E, quando olhamos para trás, vemos o quanto já caminhamos.
Mas, e quando não conseguimos? Quero conversar com você sobre isso hoje.

O ser humano tem uma capacidade admirável para superar dificuldades, mas também uma tendência insistente de se identificar com uma ideia de fracasso. Muitas vezes, ao enfrentar um desafio e não conseguir, surge um pensamento automático e crítico: “Tá vendo? Eu nunca vou conseguir. Não tenho capacidade.” E, diante desse pensamento, muitos nem tentam.
Se alguém acredita verdadeiramente que não consegue, essa convicção, sozinha, já se torna uma barreira quase intransponível. É por isso que a crença do “não consigo” é um dos maiores impedimentos para a mudança.
Quero que, com esse pequeno texto, você consiga compreender que: existe um salto perigoso que precisamos observar em nós mesmas — o de passar de “é difícil conseguir o que eu quero, já que tentei várias vezes sem sucesso” para “não sou capaz de conseguir o que quero”. Dificuldade quase sempre quer dizer apenas isso: que é difícil. Raramente quer dizer que é impossível. O problema é que, quando dizemos repetidamente “não consigo”, criamos uma espécie de profecia — que chamamos, na psicologia, de “profecia autorrealizadora” — e acabamos desistindo antes mesmo de tentar. A profecia autorrealizadora é quando a gente passa a viver como se o fracasso já estivesse garantido.
É importante também “dar nome aos bois”, como diria minha avó. Sim, algumas metas são de fato improváveis — como ganhar uma medalha nas olimpíadas sem ter se dedicado anos a fio a esse fim. Mas muitas coisas que você diz que “não consegue” são absolutamente possíveis. A questão não está na sua capacidade, mas, muitas vezes, na forma como você se relaciona com a realidade e com o processo de conseguir o que deseja.
Por isso, no meu Instagram e na minha prática clínica, falo tanto sobre os pequenos passos possíveis. Eles têm uma grande importância no processo, quando acompanhados pela constância. A constância vive na memória — e precisamos lembrar, com frequência, das coisas que já enfrentamos. Trazer à tona a sensação de fazer algo difícil, lembrar como foi superar, reconhecer nossas verdadeiras capacidades. Buscar referências reais também pode ajudar: grandes biografias — e biografias comuns, também — histórias de quem passou por dificuldades e venceu. E, mais do que isso, criar âncoras para si mesma.
Uma forma de fazer isso é através de um cartão de enfrentamento. Nele, você pode escrever: o que é importante para mim? Por que vale a pena? Qual é o objetivo que me move? Ter clareza é ter direção. E, às vezes, o que nos falta não é força, mas um lembrete do porquê começamos — como na famosa frase:
“Quem tem um ‘porquê’ enfrenta qualquer ‘como’.”
A constância exige três ingredientes: clareza nos pensamentos, esforço e planejamento. Quando você se abre para essas três tarefas, as possibilidades aumentam — e muito. Planejar é um ingrediente fundamental. Como diz Lincoln: “Se eu tivesse nove horas para cortar uma árvore, passaria seis afiando o machado.” Isso é intenção com ação e planejamento.
Você precisa se perguntar:
O que eu vou fazer?
Por quanto tempo?
Quando e como?
E, se possível, vincule o novo hábito a algo que já faz parte do seu dia. Comprometa-se com alguém. Exercite a presença. Esteja no agora. Quantas vezes você percebe que a vida está acontecendo… e você está no futuro? Ou antecipando catástrofes?
Outro cuidado importante que preciso ressaltar é o famoso “vou mudar”. Essa frase, repetida sem ação, pode virar apenas um alívio temporário — e não um compromisso real. A mudança não acontece no grito da promessa, mas no silêncio dos pequenos passos possíveis e constantes.
Vejo, na minha prática clínica, pessoas que desistem dos seus desejos porque acham que precisam fazer grandes movimentos, grandes renúncias. Dizem: “Vou cortar todos os doces”, “vou treinar uma hora por dia”, “vou estudar quatro horas, ler dois livros por semana.” Mas a verdade é que não é no esforço pontual e extremo que mora a mudança. O livro A Educação da Vontade diz exatamente isso:
“É no esforço moderado e contínuo que reside a energia fecunda.” Não é no sacrifício de um único dia, mas na direção que você sustenta ao longo do tempo. E aqui, o menos perseverante vale mais que o muito ocasional.
Muitas mulheres me dizem: “Mas Mari, é muito pouco!”
E eu respondo: “Sim. Mas segure esse pouco por muito tempo.”
Depois, você pode aumentar. E vai aumentar.
E, por fim, precisamos falar sobre flexibilidade. Duas posturas ajudam muito na mudança: primeiro, parar de ser tão exigente consigo mesma e com os outros. Se é você quem impõe exigências, é você quem pode aliviar. Segundo, entender que a aflição com a própria aflição pode ser interrompida. Você pode parar de se machucar pelo que sente, focar menos nos sentimentos e mais no que deseja conquistar ou mudar.
Sobre se martirizar, imagine o seguinte: pense na imagem de uma bola de espinhos. Segurá-la já é desconfortável. Mas apertá-la com força é sofrimento desnecessário. Você não pode mudar o fato de ela ter espinhos — mas pode mudar a forma como a segura. Assim é com muitas situações da vida. Nem tudo pode ser controlado. Muita coisa vai ser desconfortável, mas nem tudo precisa ser sofrimento. Você não pode controlar todas as situações ao seu redor, mas pode mudar a relação que tem com seus sentimentos — e com você mesma.
Se você chegou até aqui, talvez esteja aí dentro de você também aquela vontade de subir um morro — um que parece impossível de escalar. Espero que você tenha aprendido sobre as ferramentas necessárias para isso.
Lembre-se: é no pequeno passo, um após o outro, que tudo começa.
De repente, quando menos espera, você se percebe no alto. E se surpreende:
“Nossa… eu consegui.”